sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Tendências

"... A determinação da modernidade como tempo de transição, desde que foi descoberta, não perdeu a evidência de seu caráter de época. Um critério infalível desta modernidade são seus conceitos de movimento - como indicadores de mudança social e política e como elementos linguísticos de formação de consciência, da crítica ideológica e da determinação do comportamento.
     A consciência histórica da modernidade se dá na medida que as expectativas começam a separar-se da experiência. Cronologicamente, isso aconteceu na transição entre a chamada Idade Média e a Idade Moderna, visto que, neste período, a compreensão do tempo perde seu caráter escatológico por meio do qual expectativa e experiência se confundiam. Na modernidade histórica, existe uma relação assimétrica entre experiência e expectativa. O homem passou a experimentar o tempo como algo inédito, passível de ser planejado e distinto do passado. Esta nova relação com o tempo surgiu unindo a expectativa com a ideia de progresso, que atribui ao futuro uma qualidade histórica nova ancorada nos prognósticos, nos cálculos políticos e nas utopias.
     A naturalidade com que as previsões dos cristãos crentes ou as profecias de toda espécie transformaram-se em ação política já se notava desde 1650. O cálculo político e a contenção humanista delimitaram um novo horizonte para o futuro. Aparentemente, nem as predições de um grande único fim de mundo, nem as que previam eventos múltiplos e de menor monta foram capazes de prejudicar o curso das coisas humanas. Em vez do fim do mundo previsto, um tempo diferente e novo foi inaugurado.
      A partir de então se tornara possível referir-se ao passado como uma Idade Média. Os próprios conceitos - a tríade Antiguidade, Idade Média e Idade Moderna - já se encontravam disponíveis desde o humanismo, mas foram gradativamente disseminados para a história apenas a partir da segunda metade do século XVII. Desde então, o passou a viver na modernidade, estando ao mesmo tempo consciente de estar vivendo nela. É claro que, conforme as nações e as classes, isso era parcialmente válido, mas se tratava de uma constatação, que, segundo Harzard, pode ser compreendida como a crise do espírito europeu."

Filosofia, Ciência e Vida. Editora Escala.




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