terça-feira, 8 de janeiro de 2019

Estética

"Penso a estética como um modo de reduzir a pobreza da experiência humana, incapaz de ser comunicada e compartilhada com relação a uma tradição (tal como pensa Walter Benjamin), ao viabilizar uma educação a que se recorre para subverter formas de existência predominantes em nosso meio, hoje frenéticas e irrefletidas, com base em estímulos produzidos pelas mídias e pelas telas. Por meio da educação estética podemos exercitar dimensões ignoradas pela atual sociedade, imediatista e apressada, a fim de resgatar a espera, a lentificação, a escuta, a atenção e a escolha. Em regimes de sociedade 24/7, como cunhou Jonathan Crary, que se estrutura norteada pelo imperativo da produtividade e da rentabilidade ininterruptas, com a vida que privilegia cálculo de ganhos, em um mundo de hiperaceleração e hiperestímulo, somos colocados no limite do que pode o humano. Em tal regime, a partilha de um sentido comum mergulha em declínio, dado que tal sentido é tecido na demora, na escuta, na maturação das vivências, o que não mais acontece. A estética nos permite criar linhas de fuga, que marcam outras possibilidades de sentido e vínculo com o real, capaz de transformar e revolucionar a percepção ordinária, de permitir a desconstrução de realidades já estabelecidas, pondo em cheque e subvertendo modos hegemônicos de sentir e perceber, ao arrancá-los de seu valor de uso e troca, liberando-os para um livre jogo com aquele que compõe a realidade à nossa volta, no afã de reconhecê-la em sua mutabilidade e renovação. Experiências de tempo (duração, lentificação), convívio, sentido de comunidade e pertencimento, criação e construção de sentidos, pela arte, pela cultura, constituem a estética e estão hoje no centro daquilo que pode produzir uma recuperação do humano, ao arrancá-lo de uma lógica unidimensional."

Angela Medeiros Santi, Filosofia Ciência & Vida.





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