terça-feira, 8 de janeiro de 2019

Filosofia da Educação

"A filosofia historicamente põe em cheque o poder, porque ela se constitui na palavra que questiona e desestabiliza o poder estabelecido. O discurso que sustenta a prática da filosofia é um discurso que desconstrói dogmas, implode-os, enquanto boa parte do poder se constitui na cristalização de certezas e na anulação do pensamento. A palavra potente, que questiona e institui a realidade social, é aquela que funda e legitima não só a filosofia, mas também a democracia. Por que a filosofia é tão vulnerável ao poder estabelecido no Brasil? Porque a democracia também o é. Uma e outra são facilmente retiradas de cena quando os governos se afirmam sobre uma legitimidade questionável.
     Há, no Brasil, há um franco investimento na desqualificação do pensamento crítico e analítico, esvaziando-o de sua capacidade de evidenciar contradições. A filosofia oficialmente, ao perder sua obrigatoriedade e depender de sua presença na Base Nacional Comum nos currículos é um sintoma de que a democracia declina. Mas não nos iludamos: não se trata somente dos governos, a filosofia contemporaneamente luta contra uma concepção instrumental e monetária do mundo, em que o investimento em uma vida significativa é anulado. Uma cultura diária, tornada midiática, desqualifica o pensamento complexo e em perspectiva, infantilizando as pessoas com resumos simplificadores da realidade. Uma atrofia, associada a uma apatia, produz em nós o que Hanna Arendt chama de banalidade do mal, na medida em que, de alguma forma, muitos agem sem se comprometer com as implicações do que pensam, fazem e leem. Tal como Eichmann, responsável por muitas mortes durante o nazismo, trata-se do malnascido da indiferença e do desvalor."

Angela Medeiros Santi, Filosofia, Ciência & Vida.



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