sábado, 18 de agosto de 2018

Vincent Van Gogh

"Van Gogh é um personagem importante no contexto da arte, com uma linguagem altamente expressiva para o presente, o passado e o futuro.
     O que chama a atenção em Van Gogh é sua capacidade de penetrar no íntimo das coisas, capacidade esta que não lhe foi dada, mas sim adquirida através da sua própria vivência...
     Por algum tempo trabalhou como guarda-livros, adquirindo, então, o hábito do cachimbo. Continuava a ler a Bíblia e começou a se tornar um excêntrico, um estranho. Com 25 anos era uma pessoa nervosa e abatida. Partiu para uma zona industrial da Bélgica, onde trabalhou entre os pobres. Tal trabalho fez com que observasse as condições miseráveis de muitos na sociedade europeia da época, profundamente injusta, dividida por camadas sociais e que aparecerá marcada, em algumas das suas obras, como a impressionante: Os Comedores de Batatas. Esta obra reflete o aspecto flagrante da vida dos trabalhadores rurais e apresenta também traços que lembram as ideias pictóricas de Rembrandt, colocadas fortemente em traços realísticos.
     É sua esta frase: é muito bom estar na neve do inverno, nas folhas amarelas do outono, no trigo maduro do verão, na grama da primavera e sentir tudo isto com uma força vital que nos leva a amar e a sentir a vida. Os Comedores de Batatas é uma obra que não só saiu do coração de Van Gogh, mas que cristalizou vários anos de luta apaixonada pela expressão que escolhera. Quando decide pintar, a pintura não é para ele uma forma de poder simplesmente comunicar. Será, isto sim, a maneira de reestruturar a natureza.
     Van Gogh é o artista mais original do final do século XIX e do princípio do século XX. As cores, em Van Gogh, não são uma simples continuidade do impressionismo. São uma lição de como a força criadora interna pode jogar plasticamente com os elementos para expressar a realidade do próprio indivíduo.
     Em que se mede a diferença de um artista? Não se mede naquilo que apenas faz, na sua maneira de realizar, nem na íntima convicção que tem do que pode recriar, mas na forma como o artista pode desenvolver uma transcendência. Poderíamo-nos aqui perguntar: o que é transcendência? E por que Van Gogh transcende?
     Transcender significa tratar de estruturar um mundo que essencialmente tem significado para a própria pessoa. E isso somente consegue-se através do trabalho justo e honesto. Sofrer sem queixa é a única lição que devemos aprender da vida de Vincent Van Gogh."

Psicologia da Arte, Juan Jose Mourino Mosquera. Editora Sulina. 1973.



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