"Isso mostra que todas as cinco são muito úteis em relação ao corpo. Até mesmo a tristeza é de alguma forma anterior e mais necessária que o amor, porque importa mais repelir as coisas que prejudicam e podem destruir do que adquirir aquelas que acrescentam alguma perfeição, sem a qual se pode subsistir."
"É por isso que devemos servir-nos da experiência e da razão para distinguir o bem do mal e conhecer seu justo valor, a fim de não tomarmos um pelo outro e não nos entregarmos a nada com excesso."
"Desse modo, se não tivéssemos corpo, eu ousaria dizer que não poderíamos nos abandonar demais ao amor e à alegria, nem evitar demais o ódio e a tristeza. Os movimentos corporais que os acompanham, contudo, podem ser todos nocivos à saúde quando forem muito violentos e, ao contrário, ser úteis a ela quando forem apenas moderados."
"Mesmo quando forem igualmente mal fundadas, a alegria é usualmente mais nociva que a tristeza porque esta, infundindo certa retenção e certo receio, predispõe de alguma forma à prudência, ao passo que a outra torna inconsiderados e temerários aqueles que se abandonam a ela."
"Quem quer que tenha vivido de tal maneira que sua consciência não possa recriminá-lo de nunca ter deixado de fazer todas as coisas que julgou serem as melhores (que é aquilo que chamo aqui seguir a virtude), recebe com isso uma satisfação que é tão poderosa para torná-lo feliz, que os mais violentos esforços da paixão nunca têm poder suficiente para derrubar a tranquilidade de sua alma."
As Paixões da Alma. René Descartes.